quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Torres Vedras

Mapa do concelho de Torres Vedras






HISTÓRIA
A presença humana nesta área remonta à pré-história, mais precisamente ao Paleolítico Inferior. Desde então, numerosas civilizações se estabeleceram aqui atraídos pelas óptimas condições destas terras, dedicando-se principalmente à agricultura, à criação de gado e à metalurgia do cobre. Durante os primeiros séculos da nossa era, também os romanos elegeram os vales férteis de Torres Vedras para a instalação de numerosas casas de campo, tendo iniciado o cultivo da vinha.
Porém, só após a Reconquista Cristã, Torres Vedras tem a sua afirmação histórica.
A criação do concelho remontará ao reinado de D. Afonso Henriques, embora o primeiro foral date de 1250, atribuído por D. Afonso III, reformado posteriormente por D. Manuel, em 1510.
Palco de memoráveis acontecimentos, foi nesta cidade que se reuniu D. João I com o seu conselho, em 1413, para deliberar sobre a conquista de Ceuta.
Um outro facto histórico importante é o complexo sistema defensivo das Linhas de Torres, que permitiu vencer as tropas napoleónicas aquando das suas invasões.

«De história se escreve a grandeza de um povo e de uma região. De mar sempre se fizeram acompanhar as lendas e a história destas povoações do Concelho de Torres Vedras, que pululam e habitam o seu extenso litoral. Gente implantada à terra e ao mar, fervorosamente religiosa, em que a devoção e a fé, ditaram muitos nomes, definiram a toponímia e narraram muitas lendas.»

Autor: Artur Henriques


MONUMENTOS


Castelo Medieval

O Castelo de Torres Vedras situa-se no Largo Coronel Morais Sarmento. Foi mandado construir por D. Dinis em finais do século XIII. No ano de 1810, o castelo passou a ser fortaleza das conhecidas Linhas de Torres, e no ano de 1846 serviu de quartel para as tropas do Conde de Bonfim.


O Palácio dos Alcaides

Era composto por dois andares que davam para um pátio interior que tinha uma cisterna. Restam todas as paredes exteriores, a porta de entrada e, no rés-do-chão, existem ainda pedaços de parede e chão em pedra e tijoleira, assim como as mísulas em pedra, que sustentavam o travejamento do andar superior. Deste restam apenas as cantarias das janelas.


Aqueduto


Não se conhece exactamente quando se construiu o Aqueduto de Torres Vedras, mas existem referências desde o ano de 1561. Situa-se sobre o rio Sizandro, na estrada que vai em direcção à população de Runa. Toda a sua extensão, formada por arcos, é de aproximadamente 2 quilómetros de comprimento.


Forte S. Vicente

Situa-se no cume de um dos montes mais altos que rodeiam a cidade, o Monte de São Vicente. Foi mandado construir no ano de 1809 para a defesa da população e de Lisboa, ante os ataques dos franceses, e formou parte das famosas “Linhas de Torres Vedras”, sendo um dos mais fortificados.


Centro Histórico

Remonta a épocas anteriores à nacionalidade e é constituído pelos bairros abrangidos pela antiga cerca medieval da vila, hoje inexistente. O seu cerne é constituído pelo Castelo, onde ainda se pode constatar a existência de argamassas romanas em algumas cisternas. Ainda antes da reconquista, Torres Vedras era uma animada urbe, povoada por árabes, judeus e cristãos-primitivos.

Igreja de Santa Maria do Castelo

Situa-se no interior das muralhas que rodeiam o castelo e foi construída no século XII. É uma igreja de estilo românico e no seu exterior encontra-se uma torre sineira. No seu interior, de uma só nave, destacam-se as talhas de final de século XVIII, situadas nos altares, e a imagem de Santa Maria.


Igreja de Santiago

É um templo antigo reconstruído no século XVI. Na sua fachada encontra-se o portal estilo manuelino e num dos lados a torre sineira. Das suas origens apenas preserva a pia baptismal e uma escada em caracol, feita em pedra, que liga com o coro da igreja.


Igreja da Mesericórdia

Foi construída entre 1681 e 1752. Apresenta, à entrada, o coro alto sustentado por colunas de fustes estriados. As paredes são decoradas com telas e silhares de azulejos do século XVI. A capela-mor é decorada com mármores pretos e tem três altares com talha do século XVIII.
No cruzeiro existem dois grandes painéis de azulejos do século XVII que representam a "Deposição da Cruz" e Nossa Senhora da Misericórdia.


Convento de Santo António do Varatojo

Foi fundado por D. Afonso V no século XV.
A arquitectura da igreja do convento combina os estilos maneiristas e barroco. O seu interior é de uma só nave, com planta longitudinal. Na capela-mor destaca-se uma abóbada forrada em azulejos que representam cenas da vida de Santo António. Também se destaca, na frente da entrada da igreja, a Capela de Nossa Senhora do Sobreiro, construída no ano de 1777.


Convento da Graça

É uma construção do século XVI que se encontra na Praça 25 de Abril, no Largo da Graça. Foi fundado pelos monges descalços de Santo António e todo o conjunto está formado pela igreja do convento, de estilo maneirista e planta longitudinal, de uma só nave com abóbada de barco, e a capela-mor que é de formato rectangular.


FESTAS E EVENTOS

EVENTOS

Feira de Viaturas Usadas - Janeiro a Dezembro - 2 em 2 meses - último fim-de-semana
Feira Rural - Abril a Outubro - 1.º sábado de cada mês
Oeste Infantil – 26 de Maio a 1 de Junho
Feira de S. Pedro - 26 de Junho a 6 de Julho
Onda de Verão - Santa Cruz – Julho, Agosto e Setembro
Grande Prémio Internacional Joaquim Agostinho - Ciclismo – 09 a 13 de Julho
Carnaval de Verão - Santa Cruz – Meados de Julho
Festas da Cidade – Final de Outubro a 11 de Novembro

FESTAS POPULARES E RELIGIOSAS

A seguinte informação foi disponibilizada pelas Juntas de Freguesia do concelho. No caso em que apresenta dias específicos, poderá sofrer alterações de ano para ano.

Campelos
- Campelos - Festa de Santiago - 25 a 27 de Julho
- Casais do Rijo e Campainhas - Festa Anual - 19 a 22 de Julho
- Casais das Giestas - Festa da Sagrada Família - 1 a 3 de Agosto
- Cabeça Gorda - Festa Anual - 15 a 19 de Agosto

Dois Portos
- Caixaria - Nossa Senhora dos Prazeres - Fim de Semana da Pascoela
- Furadouro - Nossa Senhora da Guia – 2º Fim de Semana de Agosto
- Dois Portos - Nossa Senhora dos Anjos – 1º Fim de Semana de Setembro
- Feliteira- 1º Fim de semana de Julho
- Ribaldeira - Santa Catarina – 1º Fim de Semana de Junho
- Buligueira – 1º de Fim de Agosto

Freiria
- Sendieira - Imaculado Coração de Maria - 04 a 07 de Julho de 2008
- Chãos - Nossa Senhora de Fátima - 17 a 21 de Julho de 2008
- Freiria - Nossa Senhora da Conceição e São Lucas - 25 a 29 de Julho de 2008
- Concelhos e Poços - Nossa Senhora do Livramento - 14 a 18 de Agosto de 2008

Maceira
- Maceira - Nossa Senhora da Conceição - 14,15,16 e 17 de Agosto

Matacães
- Matacães - Festa do Santíssimo Sacramento - 15 de Junho
- Ribeira de Matacães - Festa Mártir S.Sebastião - 1,2,3,4 Agosto
- Matacães - Festa de Nª Senhora da Oliveira – 1 de Agosto
- Matacães - Festa de Aniversário do Grupo Desportivo de Matacães - 30,31,Agosto 5,6,7,8,Setembro

Ponte do Rol
- Festa em honra de N. S. Jesus dos Aflitos em Ponte do Rol - 31 Abril 08 a 4 Maio 08
- Festa Anual em Gondruzeira - 9 a 11 Maio 08
- Tasquinhas e Marchas Populares em Ponte do Rol - 13 a 15 Junho 08

Runa
- Festa S.João Baptista - dia 24 de Junho, realizada no Largo 25 de Abril - Runa.

S. Pedro e Santiago
- Louriceira - Festa da Páscoa – Páscoa
- Figueiredo - Nª Sª da Saúde - Variável (Maio)
- Varatojo - Stº António - 12 a 13 de Junho
- Paúl - Nª Sª da Piedade - Variável (Agosto)
- Fonte Grada - Nª Sª da Nazaré - Variável (Agosto)
- Figueiredo - Variável (Setembro)
- Boavista - Variável (Setembro)
- Boavista- Olheiros - Festa do Atleta - 29 de Agosto a 1 de Setembro
- Louriceira - Nª Sª da Conceição - 8 de Dezembro

S. Pedro da Cadeira
- Cambelas - Festa Anual - de 6 a 10 de Junho
- Assenta - Festa de S. João Baptista - de 20 a 24 de Junho
- Soltaria - Festa Anual - de 11 a 14 de Julho

Silveira
- Boavista - Festa Anual - 18,19 e 20 de Julho
- Santa Cruz - Festa de Santa Helena e S. João Baptista - 19 e 20 Julho
- Silveira - Festa de Nossa Senhora do Amparo - 1 a 5 Agosto
- Casalinhos de Alfaiata - Festa de São José - 9 e 10, 14, 15, 16 e 17 Agosto

CARNAVAL DE TORRES VEDRAS

A comemoração do Carnaval em Torres Vedras é fiel às tradições do entrudo em Portugal. Distingue-se pela participação espontânea e massiva dos cidadãos. Embora os desfiles sejam organizados e neles participem os carros alegóricos, os grupos de desfile, as "matrafonas" e os famosos cabeçudos "Zés-Pereiras", muitos são os populares mascarados que se divertem nos espaços livres, entre os carros e os grupos em desfile. O Carnaval de Torres é conhecido e tem como imagem de marca a carga satírica aos costumes com a mistura explosiva das tradicionais caricaturas que parodiam política e socialmente o "status quo". Num acto da mais elementar "justiça popular", os torrienses e os seus visitantes aproveitam-se para "gozarem" e "vingarem" todos os que durante o ano os "maçaram". Este evento popular tem o seu ponto alto na teatralidade e no cerimonial do "enterro do entrudo".




ALOJAMENTOS – TURISMO

Hotel Golf Mar
Hotel Império
Hotel Santa Cruz
Hotel das Termas do Vimeiro
The Westin Campo Real Golf Resort & Spa
Hotel-Apartamentos Praia Azul
O Pássaro
Pensão Berço Mar
Pensão Promar
Pensão Residencial O Forte
Pensão Mar Lindo
Pensão Alcabrichel
Pensão Ludovino
Pensão Rainha Santa
Pensão Residencial Moderna
Pensão Residencial Os Arcos
Pensão Residencial S. Pedro
Pensão Ninho do Pinhal
Parque de Campismo de Santa Cruz
Casa do Alpendre
Casal do Gil de Cima


VINHOS

Esta região foi eleita zona privilegiada para o cultivo da vinha até aos nossos dias. Os vinhos brancos e tintos são conhecidos e apreciados por toda a parte, sendo considerados dos melhores que se produzem em Portugal. A abertura dos mercados externos determinou o alargamento da área da vinha, feito sobretudo através da transformação de terrenos incultos ou bravios. Essa expansão acabou por aumentar a fixação populacional e reforçar os contactos e os laços com outras regiões. Em 1980, produziram-se nesta região 2,2 milhões de hectolitros de vinho. Por esse motivo, o Oeste constitui a região do país que produz a maior quantidade de vinho sendo Torres Vedras o primeiro produtor nacional.



HISTÓRIA E LOCALIZAÇÃO DAS TERMAS DO VIMEIRO

As Termas do Vimeiro situam-se nas margens do rio Alcabrichel, no topo norte do concelho de Torres Vedras. Por documentos e tradição, julga-se que as águas termais do Vimeiro tenham sido utilizadas pela Rainha Santa Isabel. Sabe-se, ainda, que a Infanta D. Leonor, filha de El-Rei D. Duarte, se teria aí acolhido a beber as águas para cura dos seus males. Porém, o facto histórico mais saliente foi, sem dúvida, a célebre e dura BATALHA DO VIMEIRO, que ocorreu no dia 21 de Agosto de 1808.
As indicações terapêuticas destas águas são: perturbações dispépticas, disfunções hepato-vesiculares, afecções crónicas dos rins e bexiga e certas dermatoses.



HISTÓRIA E LOCALIZAÇÃO DAS TERMAS DOS CUCOS

S ituam-se nos subúrbios de Torres Vedras, a 2 Kms da cidade, junto à Estrada Nacional nº 9, a caminho de Runa. A utilização destas águas e lamas dos Cucos, começou em 1746. Contudo, só em 1866, foi nomeada uma Comissão que procedeu a estudos preliminares sobre as Águas Minerais do Reino, onde figuravam as nascentes dos Cucos. Duas décadas depois chega a Torres Vedras o primeiro comboio da linha do Oeste e é projectada a construção do complexo termal.
As indicações terapêuticas destas águas são: reumatismos crónicos, artroses, espondilartroses, artrites reumatóides, espondilartrites anquilosantes, reumatismos extra-articulares, nevralgias reumáticas, gota e sequelas de traumatismos.


PRAIAS

O concelho de Torres Vedras possui mais de 20 km de costa marítima onde podemos encontrar praias de rara beleza, tranquilas e com largos areais cosmopolitas, onde existem diversas alternativas para o lazer ou para a prática desportiva, principalmente, natação, surf, bodyboard, pesca, entre outros. O clima é ameno, permitindo até a frequência das praias fora da época habitual. As praias mais conhecidas são: Sta. Rita, Porto Novo, Assenta e, de modo particular, Sta. Cruz (antiga praia de Sta. Cruz de Ribamar) que sobressai das restantes pela extensão, largura e brancura do seu areal, bem como pelo seu cosmopolitismo.


Praia de Santa Cruz

Com um areal de longuíssima extensão, Santa Cruz é a praia mais conhecida do concelho devido ao seu cosmopolitismo e à sua animação.


Praia Azul

O extenso areal e as suas dunas caracterizam esta praia. Ideal para praticantes de surf e de bodyboard de Inverno, tendo águas mais calmas de Verão. Está localizada entre falésias e o rio Sizandro.
Possui acesso a deficientes, parque de campismo, pesca desportiva, aluguer de toldos, espreguiçadeiras, bar, duches, restaurante, posto de turismo, bodyboard, surf, instalações sanitárias e praia vigiada.


Porto Novo

Onde desagua o Rio Alcabrichel, encontra-se no limiar de um vale paradisíaco, entre escarpas de vegetação luxuriante, onde se encontram grutas com vestígios pré-históricos, campo de golfe, um centro hípico e uma piscina de água aquecida.


Assenta

Situada no extremo Sul do concelho, junto à estrada para a Ericeira, a praia de Assenta pertence à Freguesia de S. Pedro da Cadeira. É uma praia tranquila e acolhedora, situada num recanto abrigado por altas falésias que a circundam. É o sítio ideal para quem ambiciona umas férias sossegadas.



UM PASSEIO POR SANTA CRUZ E ARREDORES

Em Santa Cruz pode fazer um passeio pedestre ao Longo da Avenida do Atlântico ou pode visitar esta praia através do Comboio Turístico que faz as visitas apenas nos meses de Julho e Agosto entre as 10h00 e as 17h00. Pode ainda melhorar a sua forma física, fazendo o mesmo percurso de bicicleta ao longo da ciclovia entre Santa Cruz e Porto Novo.




PASSEIO PEDESTRE DOS ESCRITORES E DOS POETAS


Poderá fazer ainda vários trajectos a pé, pelo centro de Santa Cruz, visitando alguns locais impregnados de cultura, tocados pelos notáveis poetas e escritores que viveram nesta terra.


Escultura apostada na face lateral da parede da casa onde viveu Kazuo Dan

Monumento a João de Barros e ao fundo o extenso areal em direcção a Porto Novo



Monumento a Kazuo Dan


Varandas da Esplanada Antero de Quental
Vista orientada a Sul, a partir do local onde se encontra o monumento a Kazuo Dan

CULTURA & ETNOGRAFIA


Património Arquitectónico de Interesse Público


Em Santa Cruz e nos seus arredores há três monumentos ou sítios, classificados pelo IPPAR como IIP - Imóvel de Interesse Público:


· Azenha de Santa Cruz
· Ruínas do Convento Penafirme
· Duas Grutas junto a Maceira

Azenha de Santa Cruz

Fica situada no centro de Santa Cruz, foi classificada pelo IPPAR na categoria de Arquitectura Civil e tipologia Azenha, através do Decreto 67/97, DR 301 de 31 de Dezembro de 1997.

Ruinas do Convento de Penafirme

As ruinas do Convento de Penafirme, ou do Convento de Nossa Senhora da Graça de Penafirme, construído entre 1597 e 1638, veio a ser destruído pela invasão das águas como consequência do terramoto de 1755. Situam-se nas dunas, junto à foz da ribeira do Sorraia, a 700 metros da praia de Santa Rita e a 4 km de Santa Cruz.


Grutas pré-históricas

As grutas pré-históricas, designadas por "As Duas Grutas junto a Maceira, incluindo a Gruta ou Lapa da Rainha", situam-se em Maceira, a cerca de 6 km de Santa Cruz, nas margens do rio Alcabrichel.


GASTRONOMIA

A gastronomia de Torres Vedras reflecte a proximidade do mar assente numa forte componente rural: os pratos tradicionais são acompanhados com o tradicional pão caseiro, cozido em fornos de lenha, e a "bela pinga" que se produz no concelho de Torres Vedras. Destaca-se os originais pratos da "matança de porco"; o coelho guisado com arroz; cabrito assado no forno; ensopados de borrego ou de cabrito; os nacos de vitela e as enormes costeletas de vaca grelhados na brasa; as deliciosas sopas de legumes. Também existem muitas confecções à base de peixe e de marisco: os diversificados pratos de Bacalhau; o mexilhão ou a amêijoa ao natural ou ao "bulhão pato"; a caldeirada de peixe; os carapaus, os pargos e os robalos grelhados na brasa. As refeições são acompanhadas com as saladas e completam-se com os mimos de uma sobremesa: os típicos pastéis de feijão; o bolo de ferradura; o queijo saloio e todo o tipo de doces conventuais.


PASTÉIS DE FEIJÃO

Nos finais do século XIX, vivia na Vila de Torres Vedras uma ilustre senhora, D. Joaquina Rodrigues, que possuía uma receita de uns deliciosos pastéis, com que brindava os seus familiares e amigos. D. Maria passou a fabricar os pastelinhos por encomenda, sendo ela a primeira pessoa a comercializá-los. Esta receita passou a ser divulgada entre os familiares de D. Joaquina e, assim, uma parente de nome Maria Adelaide Rodrigues da Silva, mais conhecida por Mariazinha, também aprendeu a arte de fabricar os pastéis de feijão. Entretanto D. Mariazinha, casou com o Sr. Álvaro de Fontes Simões, que decidiu explorar comercialmente os doces. Assim nasceram os pastéis de feijão da marca "Maria Adelaide Rodrigues da Silva", que alcançaram um grande sucesso que se estendeu para muito além da região de Torres Vedras.
Em meados do século, o pastel de feijão passou a ser universalmente conhecido como o doce de Torres Vedras.



LENDA DA SERRA DA ROMÃ

Na freguesia da Freiria existe uma serra à qual chamavam a serra da Romã. Este nome tem uma lenda que poucos conhecem e que – segundo me informam – é muito antiga. Em tempos que se perdem nas esquinas do tempo, aqueles terrenos à volta da actual freguesia de Freiria pertenciam a uma poderosa fidalga viúva que tinha um filho, belo, valente, mas um tanto estouvado em assuntos de amor.
Sabemos apenas que ele era um jovem conde e se chamava Pedro. Andava sempre por terras estrangeiras, e a mãe afligia-se por saber a vida libertina do filho.
Os anos iam passando. Ela sentia-se envelhecer, e o jovem conde não conseguia escolher noiva entre as donzelas casadoiras que a mãe lhe propunha.
Certo dia, porém…
Foi na festa da Primavera. Todos os camponeses que estavam sobre o feudo de D. Elderica – a velha condessa – vinham trazer-lhe, além das suas homenagens, carneiros, porcos, leite e fruta. D. Pedro, que chegara havia pouco de uma das suas viagens, a pedido da sua mãe veio receber dos camponeses o pagamento das suas rendas e as suas generosas oferendas.
Para ele, isso era um sacrifício, mas não queria desgostar a velha condessa.
Olhava arrogante e indiferente a fila de gente humilde que chegava e entregava aos criados o que trazia.
Os camponeses dirigiam-se depois a D. Elderica, a quem saudavam respeitosamente, pois tinham em grande estima a generosa senhora.
D. Elderica sorria a todos, tendo uma palavra de simpatia para cada um.
Mas D. Pedro parecia distante. Dir-se-ia uma bela estátua imaginada por artista de mérito.
De súbito, a estátua animou-se. Na fila dos camponeses, já perto, vinha uma pobre viúva acompanhada pela filha. Trazia a viúva um cesto de fruta, e a filha um braçado de lindas flores de romã. Quando a vez delas chegou e as flores e os frutos foram entregues, D. Pedro inclinou-se para a formosíssima camponesa e perguntou-lhe:
- Como te chamas?
Um pouco atordoada, ela respondeu numa voz sumida:
- Maria.
Ia retirar-se para dar a vez a outra, mas ele reteve-a na sua voz de comando.
- Espera! Preciso ainda fazer-te mais perguntas.
Ela ficou estática. Quase aflita.
Esperou em silêncio as tais perguntas que não vinham, pois ele olhava-a de um modo estranho, que não deixou dúvida à condessa do interesse que Maria lhe inspirara. Por fim perguntou:
- Onde moras?
- Além… mais para a serra…
- Sabes que as flores que trouxeste são muito belas?
Maria sorriu.
- É tudo quanto tenho!
Ele fingiu não ouvir e fez outra pergunta:
- Sabes também que és mais bela ainda do que essas flores?
Maria corou. Seu rosto enrubescido era como romãs. Baixou os olhos sem responder. Mas a pobre viúva, vendo o ar descontente da velha condessa, pediu:
- Senhor… se nos pudéssemos retirar…
D. Elderica rematou logo.
- De certo que sim! Ainda faltam mais de dez dos vossos companheiros e todos têm a sua vida.
Silenciosamente, mãe e filha retiraram-se. Pedro, sorrindo, ficou a olhá-las até as perder de vista.
Quando a cerimónia terminou, mãe e filho ficaram sós. D. Elderica, numa voz pouco serena, pediu ao filho que ia já afastar-se:
- Esperai um pouco, Pedro!
Ele fingiu mostrar-se surpreendido.
- Que mais quereis, senhora? Não vos acompanhei até ao fim desta quase interminável procissão?
Ela acenou a cabeça. A sua expressão era firme bem como a sua voz.
Assim foi. E se achastes quase interminável a fila dos que pagam o seu dízimo, é porque somos na realidade muito poderosos.
Ele encolheu os ombros.
- Como poderei esquecê-lo?
- Pois creio que o conseguiste ainda há pouco.
Ele admirou-se.
- Esqueci-me? Quando, senhora?
- Quando dirigistes galanteios despropositados à camponesa das flores de romã!
D. Pedro riu. Depois tentou tornar mais austera a sua expressão, ao replicar:
- Senhora minha mãe… tanto desejastes que ficasse junto de vós… que atendesse esses pobres camponeses!
- Mas não vos pedi que galanteardes as filhas do campo como se fossem filhas de algo!
D. Pedro não respondeu logo. Fitava um ponto vago no salão. Depois murmurou, como para si próprio:
- Tantas mulheres que tenho visto por esse mundo fora, nunca vi nenhuma que a beleza se igualasse à de Maria!
D. Elderica afligiu-se.
- Pedro, meu filho, vede o que estais dizendo!... Prometei-me que não vais procurar essa pobre rapariga! Será duro para ela… e para nós!
Pedro não prometeu. Ironizou:
- Depois de estar enamorado de dezenas de mulheres, pensais que iria prometer-me à jovem Maria?
A condessa, num ar altivo, retorquiu-lhe:
- Claro que não! Mas também não deveis sequer desorientá-la. Com o fogo e o ferro não devemos brincar!
E sem mais explicações saiu do salão, deixando o jovem entregue a surpreendentes pensamentos.
Dois dias passaram sobre a festa das flores. D. Pedro, sem poder mais conter-se, saiu do palácio e foi dar ao monte onde morava a viúva, guiado pela cor das flores de romãzeiras. Levava o cavalo a passo. O coração batia-lhe como em dia de grande caçada.
De súbito puxou as rédeas, com mais precipitação do que seria necessário. O cavalo estacou. Ali estava Maria, sentada num banco improvisado e olhando extasiada o horizonte, como se algo mais os seus olhos descortinassem. D. Pedro via-a de perfil. Desceu do cavalo e encaminhou-se para ela, de mansinho. Tão absorta estava ela na sua meditação que nem ouviu os passos do recém-chegado pisando a terra fresca. Foi necessário que este chamasse baixinho.
- Maria…
Ela sobressaltou-se. Ergueu-se dum salto, os seus olhos arrasaram-se de lágrimas. Tremia. Ele notou-lhe a emoção. Perguntou docemente:
- Tens medo de mim? Assustei-te?
Maria tentou reagir.
- Senhor… Eu estava a imaginar-vos… lá em baixo…
Pedro sorriu satisfeito.
- Mas viste-me junto de ti e duvidaste dos teus próprios sentidos. Pois devias esperar-me!
Ela mordeu os lábios antes de responder:
- Senhor! Como poderia ousar…
Tornou-se mais quente a voz do jovem conde.
- Maria, és a mulher que maior impressão me causou até hoje. E tenho visto tantas!...
As lágrimas libertaram-se e correram serenas, silenciosas, pelo rosto da rapariga. Ela murmurou:
- Senhor, vós podeis amar a quantas mulheres quiserdes! Sois jovem, sois belo, sois conde! Ao passo que eu…
Ele atalhou:
- O teu coração, se está livre, poderá amar quem nele terá entrada!
Ela ripostou numa voz que se perdeu no espaço:
- O meu coração está cheio. Nele não cabe mais nada!
D. Pedro pegou-lhe numa das mãos.
- Maria! Tu amas a quem?
- É meu segredo, senhor!
- E não és amada?
- Como eu amo, não!
- Não posso querer! Diz-me de quem se trata!
- Perdoai-me, senhor… mas prometi a mim própria só falar no dia em que acreditar num amor feliz.
- A que chamas tu amor feliz?
- Àquele que é partilhado com igual ardor.
- Também eu desejo um amor feliz. E se tu pudesses, Maria… Maria… se tu pudesses!
Ela fez-se pálida.
- Se eu pudesse… o quê?
- Se tu pudesses amar-me como eu sinto que te amo…
Maria, como resposta, tapou o rosto com as mãos e chorou silenciosamente. Pedro estreitou-a contra si, num arrebatamento. Perguntou:
- Maria, Maria, diz-me! Preciso de ouvir da tua boca… Tu amas-me?
Num murmúrio, ela confirmou:
- Desde a festa da Primavera!
Durante um mês seguido, Maria e o jovem encontraram-se na serra coberta de flores de romã. Pedro sentia que não podia separar-se da única mulher que soubera conquistar o seu coração volúvel. Ciente de tal certeza, certa manhã confessou à velha condessa a sua decisão de casar com a jovem Maria. A desagradável surpresa deixou a condessa tão transtornada que caiu sem sentidos. Aflito, D. Pedro tentou reanimá-la. Mas a velha senhora, depois de voltar a si, só serenou um pouco quando D. Pedro lhe jurou renunciar ao casamento com a formosíssima Maria.
Todavia, não podendo continuar ali, partiu parra a guerra em longes paragens. E a mãe, acreditando que esse seria o melhor meio de ele esquecer Maria, conformou-se com a sua abalada.
Partiu D. Pedro sem sequer se despedir da jovem camponesa. Sabia que se o intentasse não poderia cumprir a jura que fizera à mãe. Mas levava o desejo de morrer por lá, perdido nas aventuras guerreiras. Como despedida, enviou à jovem o cesto que ela ofertara à condessa, também repleto de flores de romãzeira.
Quando a jovem soube o que aconteceu não chorou, nem disse uma só palavra. Mas deixou de comer. Tinha sempre o olhar distante. Não dormia. Não falava.
Vinham de longe os camponeses para se inteirarem da sua saúde. Mas ela guardava ciosamente o seu segredo.
Certo dia, a condessa ouviu dizer que a jovem estava a morrer. Ia-se definhando hora a hora, minuto a minuto.
O remorso entrou no coração da velha fidalga. Deixou para trás os pergaminhos e foi visitar Maria.
Foi no princípio do dia. O sol doirava os campos e punha mais vivas as cores das flores das romãzeiras. Quando a carruagem chegou, com dificuldade, ao cimo do monte, a mãe de Maria correu a anunciar a nova.
- Filha, olha para mim! Calcula que a senhora condessa veio visitar-te!
Maria soergueu-se um pouco. As faces rosaram-se-lhe levemente. A fidalga entrou sem pedir licença e disse para a pobre viúva:
- Deixe-nos sós.
Atarantada, a mulher saiu do aposento pobre. A senhora aproximou-se do leito e inclinou-se. A sua voz tremeu.
- Maria! Sei porque estás a morrer. Pedro partiu para a guerra e fui eu que o obriguei a jurar que te deixasse. Quero que me perdoes esse excesso de orgulho que me ia matando e que te vai roubando a vida. Já tentei comunicar com o meu filho. Disseram-me que se mete nas batalhas mais arriscadas, sem gosto pela vida. Diz que me perdoas, Maria!
A jovem tinha os olhos rasos de lágrimas, mas os músculos do rosto continuavam parados.
A condessa voltou a falar:
- Maria! Venho levantar a jura que obriguei o meu filho a fazer. E logo que tenha mensageiro dir-lhe-ei para voltar!
Maria suspirou fundo. Mexeu os lábios e por fim murmurou:
- Já será tarde!
Com um gesto, pediu que chamasse a mãe. A condessa satisfez-lhe o desejo. Maria fez um sinal à mãe para que se chegasse mais perto. Depois, numa voz fraquíssima, quase de além-túmulo, pediu:
- Mãe… Encha o cesto que levámos… naquele dia… com flores de romã… e entregue-o à senhora condessa… São para o Pedro!
Chorando, a velha camponesa apressou-se a cumprir o desejo da filha.
A condessa levou o cesto repleto de flores. À noitinha, Maria expirava, sorrindo docemente.
Dois meses depois, o jovem conde regressou da guerra. Tarde demais para casar com Maria. Mas a horas de entrar para o mosteiro, onde se isolaria de tudo quanto tinha amado neste mundo. Tudo, não! Antes de partir, subiu à serra que ele e depois o povo chamaram «da Romã» e colheu uma flor.
Levou-a consigo, escondida. E abandonou para sempre aquelas paragens onde poderia ter sido um conde poderoso e feliz. Na sua vida de religioso, procurou sempre auxiliar os rapazes ou raparigas que não podiam casar por falta de dote. E os outos monges, vendo o seu estranho labor, começaram a chamar-lhe, por graça, o «monge casamenteiro».

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